"Veja um pouco do que há em mim, deixe um pouco do há em ti"

Eu tornei a voltar-me e determinei em meu coração saber, inquirir, e buscar a sabedoria e a razão, e conhecer a loucura da impiedade e a doidice dos desvarios. (Ec 7.25)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Só o silêncio...

Ela viu o grande incêndio que sonhara para sua vida se acabar em uma insignificante fagulha.
Quantas emoções se perderam no tempo, quantas utopias se formaram na sua frágil cabeça? Ela correu pela vida como o vento em noites de tempestade, a procurar por coisas perdidas nos recantos escuros do coração. Ela, que parou, como pára tudo que um dia cansa de ser o que é.
A sonhar coisas impossíveis, fez a longa caminhada a passos largos, entre flechas lançadas e intempéries. Amou muitos corações de pedra. Odiou alguns mediante generosa retribuição.
Foi o luxo de muitos e o desprezo de todos. Quantos, depois de míseros minutos, não partiram levando pedaços da esperança que ela tinha na vida?
Diante do temível e inevitável fim, imagens já quase de todo apagadas reconstroem uma existência de privações e preconceitos, onde a pequena, sem tréguas, é esmagada pelas convenções de uma sociedade que a abandonou.
Ela só queria um pouco de carinho (talvez um abraço apertado ou um simples aperto de mão), mas ganhou noites mal-dormidas e doenças ao amanhecer. Só queria um lar, mas ganhou apenas um quarto, onde vendeu sua vida para sobreviver.